Acho que esta questão de desertificação, tem cada vez mais a ver com o aquecimento global… A metáfora é simples. Fala-se, fala-se, fala-se, sabemos que existe, sabemos que há maneiras de se combater e reverter tendências, mas... deixa andar. Preocupo-me com o aquecimento global, acho que é uma questão que merece medidas drásticas à escala mundial. Mas, não deixo de conduzir o meu carro de cinco cilindros, nem que seja para andar umas centenas de metros, fabricado há vinte e tal anos, numa altura em que aquecimento global só seria tema de conversa num filme do George Lucas. Com a desertificação é exactamente a mesma coisa. À mínima hipótese, vamos trabalhar para a metrópole, imbuímo-nos no espírito cosmopolita da cidade grande, arrendamos o nosso T1 para nos arrumarmos no meio daqueles “caixotes” empilhados, típicos da urbe, a que chamam prédios e, quando damos por nós, estamos numa dessas lojas FNAC, num desses centros comerciais repletos de impessoalidades, a assistir a mini conferências sobre combate à desertificação do interior, feitas por um urbanoide que do interior só deve conhecer o que viu no TV RURAL do Eng. Sousa Veloso. Bem… foi para desanuviar. Isto nem sempre é assim.
No outro dia no trabalho, um turista brasileiro colocou-me a questão sobre qual seria, a meu ver, o rei português que mais importância teria tido para o desenvolvimento do interior. Depois de pensar um pouco, respondi: “ Talvez D. Dinis.” De facto, este senhor tomou medidas inovadoras, para manter toda a região do interior beirão e transmontano, com índices demográficos bastante positivos. Fez investimento público, construindo ou reconstruindo castelos em tudo que era sitio e, mais importante, tomou medidas que, do ponto de vista económico, foram bastante importantes, como a criação de zonas francas, atribuição de cartas de feira ou de foral onde atribuía fortes regalias e isenções aos habitantes destas terras, ou a quem pretendesse vir para estas viver. Isto, como é obvio, é discutível. Já D. Afonso I tomou medidas de promoção ao povoamento destas bandas da raia, também seguidas por seu filho D. Sancho I “O Povoador”. Na altura, “De Castela nem bom vento, nem bom casamento”, de forma que seria melhor manter esta zona bem guarnecida, não fossem os senhores do lado de lá tecê-las. Mas, a ilação que eu quero tirar disto é que, a meu ver, andamos a desaprender. Se já na idade – média tínhamos medidas de descriminação positiva, porque é que hoje, os Governos, não aprendem com quem, há muitos anos, os antecedeu?
Eu, pessoalmente, acho que a situação do interior, não se resolve só com estradas. A medida é boa e necessária, mas peca por tardia. Além do mais, acho que as estradas, da mesma forma que melhoram as acessibilidades, também servem para fazer com que, quem por cá está, se vá embora mais rápido. Facto curioso, é que nós somos o único país que tem 200 km de distância entre interior e litoral e, mesmo assim, sofremos de um grau de êxodo rural superior a países bem maiores. Mais! Uma reforma administrativa, ou uma regionalização, nos moldes em que têm vindo a ser equacionadas, só vêm piorar a situação, tal como sucedeu com a Reforma Administrativa de Paços Manuel no séc. XIX. È como irmos amputando, constantemente, os membros gangrenados a um corpo, em vez de o tratarmos de forma conveniente. E não é o facto de existir mais uma, ou menos uma autarquia no interior, que vai tapar as misérias dos 8% de deficit orçamental. Se o pretexto for esse, então é melhor começarmos pelos institutos, direcções gerais, empresas públicas, empresas semi-publicas, enfim, aqueles gabinetes que proliferam pela nossa capital e que não se sabe muito bem para o que servem, esses sim, verdadeiros cancros a precisar de amputação pela raiz.
Sim, porque hoje, tal como ontem, de Castela, nem bom vento, nem bom casamento, mas se calhar, MELHOR SUSTENTO!!!
Carlos Fial